Na maior parte de minha vida, convivo com as pessoas ouvintes, isso me permite que desenvolva novos vocabulários e convívio social de forma agradável, e também com as pessoas com deficiência, em sua maioria os auditivos, não raro, ouço os comentários destes últimos que sentem na pele os preconceitos que sofrem da sociedade brasileira. Observo que é cultural e de longa data.
Procurando em literaturas sobre o preconceito, por meio da internet e livros históricos, notei que em nível mundial, mesmo com os avanços tecnológicos que auxiliem os deficientes visando o desenvolvimento da capacidade máxima, o preconceito perpetua em todas as sociedades.
O que é preconceito? É um “juízo” preconcebido sobre um assunto, pessoa, raça, religião, cor, etc, os quais não conhece e nem sequer o indivíduo quer aprofundar, cria estereótipos generalizados. (Wikipedia). Segundo Crochik apud Silva e Liborio (2005), relaciona o preconceito com a formação, especialmente quando esta última contribui para a constituição da pessoa predisposta ao preconceito. A palavra preconceito já existia em obras de Theodor W.Adorno e Sigmund Freud, os quais foram fundamentais para o entendimento dos comportamentos de preconceito.
Adorno (1940) dizia que a 'pessoa autoritária justifica racionalmente o seu preconceito contra minorias, ou seja, os afetos são racionalizados”(Silva e Libório, 2005, p. 17). Ao passo que os não autoritários argumentam em defesa das minorias e possuem afeto para com elas. Já para Freud, o sujeito 'predisposto ao preconceito, é a própria negação da identificação com o alvo hostilizado'.
Para Adorno, o preconceito é onde “reside os conflitos individuais, provocados pela sociedade, que precisam de um objeto externo sobre o qual o individuo projeta seus desejos, negando-os mais uma vez em si mesmo”. (Silva e Libório, 2005, p. 25). O ódio e o medo são sentimentos mais fortes que o amor em pessoas autoritárias e o inverso ocorre em sujeitos não autoritários.
Ao longo da história da humanidade, o preconceito e o estigma sempre andaram juntas, as quais a sociedade determina atributos depreciativos ou aceitáveis, dependendo do contexto cultural e históricos específicos.
Faremos uma retrospectiva histórica sobre esse assunto. Na Idade Antiga, as pessoas com deficiência eram o sinal de algum mau presságio e castigos dados pelos deuses, demônios ou demais seres sobrenaturais às famílias. Na Grécia antiga, os deficientes eram dados como oferendas aos deuses ou abandonados a própria sorte em função da ideologia do ideal da perfeição humana. Na Roma antiga, os deficientes auditivos e os mentais graves não eram considerados cidadãos devido à falta da capacidade de falar que era considerado um atributo fundamental para alcançar a plenitude dos direitos sociais.
Na era pré-cristã, as pessoas com deficiência eram maltratadas e negligenciadas, sofriam castigos físicos, não tinham direito a higiene, saúde e segurança, eram escravas de trabalhos rudes que punham em risco de sua saúde, eram segregadas e ou abusadas sexualmente.
A situação dessas pessoas com deficiência começou a melhorar com a difusão do cristianismo sobre a caridade para com as pessoas excluídas, resgatando-as e incluídas socialmente.
No século XVII, sob influência da filosofia iluminista, a população acreditava na justiça e igualdade, e a pessoa com deficiência passou a ter cuidados especiais. Em 1784, fundado por Valentin Hauy, a primeira escola para deficientes visuais e Louis Braille (1809-1952) propôs um inovador e eficiente método de leitura e escrita para essa população, é o que conhecemos o alfabeto Braille que leva o seu nome.
Para os deficientes mentais, Seguin (1812-1880) desenvolveu atividades pedagógicas especiais. Nos EUA, Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851) provou que as crianças com deficiência auditiva podem aprender a comunicar-se, soletrando e fazendo gestos com os dedos e funda uma universidade que leva seu nome, especial para os surdos que apenas se comunicam com a linguagem dos sinais.
No século XX, Esquirol e Philipe Pinel conseguem estabelecer uma diferença entre deficiência mental e doença mental, sendo que o primeiro é relacionado ao déficit cognitivo e o segundo é caracterizado como desorganização psíquica.
Sassaki (1997), apud Silva e Libório (2005), percebe que não apenas os deficientes apresentam melhoria de vida com os recursos das escolas especializadas, é necessário que estas sejam inseridas na sociedade e ter a vida como qualquer cidadão que era a proposta original: integrando-as em escolas comuns, uma vez que a escola especial é segregadora, segundo seu ponto de vista. Essas escolas começaram a criar turmas especiais e salas de recursos visando atendimentos individualizados com o objetivo de integrar as pessoas com deficiência na escola e na comunidade.
Só que, mais tarde, a comunidade acadêmica observou que isso não era suficiente, já que o preconceito e a discriminação ainda predominam na população que são os empecilhos para a verdadeira participação social das pessoas com deficiência. Somente uma pequena parcela dessa minoria deficiente, aqueles com grau leve, alcançaram bom nível de competência, os quais superaram barreiras físicas e atitudinais existentes na sociedade. (Silva e Liborio, 2005).
Nos anos 80, os pesquisadores notaram que é a sociedade que deve adaptar às pessoas com deficiência e não o contrário, segundo Sassaki (Silva e Libório, 2005), isso é a verdadeira inclusão e inserção.
Agora, reflitam. A sociedade, seja qual for, é controlada por ideias estereotipadas, seja da mídia e outros, predomina-se o medo em não ser aceito, se não se aderir às propostas impostas para manter o monopólio e poder, as pessoas são fatalmente excluídas. Será que o controle é bom? Depende do contexto, se for para o lado destrutivo, é péssimo e se for construtivo, é bom.
Uma coisa é certa: controle, imposição e chantagem emocional não são atos de amor e sim, de violência.
Que tal praticamos mais o amor, tolerância e paciência para com o seu semelhante, inclusive as pessoas com deficiência auditiva?
Sem dúvida nenhuma que os deficientes auditivos, por terem mais sensibilidade, percebem tudo o que se passa ao seu redor. Sabem codificar, por experiência de vida, as emoções nos rostos das pessoas, sejam elas próximas ou não, ao mencionar aos sujeitos as suas percepções, na maioria dos casos, estes enganam dizendo que não é nada disso. Ledo engano! Não há dúvidas, dependendo do contexto, acaba com a confiança no relacionamento com as pessoas com deficiência auditiva, já que na maioria dos casos tiveram infância difícil por conta da deficiência.
Contudo, vamos nos olhar para dentro, ver quais bons atributos temos e procurar praticar atos que beneficiem a todos, inclusive às pessoas com deficiência para que seja inseridas e aceitas socialmente.
Deste modo, todos ganham.
Reflitem!
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Fontes:
Libório, R. M C e Silva, D. J. da. Valores, preconceito e práticas educativas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
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