Impressionante como a ignorância
perpetua nas relações de trabalho entre a liderança e os colaboradores com
deficiência!
Pela minha experiência, ainda os
colegas e a liderança acham que eu não tenho a capacidade de executar tarefas,
por uma simples ignorância imaginando que eu não entendo nos que é dito ou
explicado. Tal fato por eu ser uma pessoa com deficiência auditiva oralizada, amante da língua portuguesa e indignada
da falta de coerência e boa vontade das pessoas em saber diferenciar os surdos
oralizados que usam a língua portuguesa como nativa dos surdos sinalizados que
falam LIBRAS. O que diferencia entre eles? A língua portuguesa possui
aproximadamente 500 mil verbetes contra os aproximadamente 10 mil da LIBRAS.
Uma diferença gritante de aproximadamente 490 mil verbetes!!!! Perceberam?
Pois bem, eu aprendi um pouco
LIBRAS, por curiosidade e também para entender o processo cognitivo dos surdos sinalizados, pude
notar que essa língua, que é um direito desse grupo em comunicar com o mundo, a
maioria das frases são decorrentes de ação, claro que existem adjetivos, substantivos
comuns entre outros. Exemplo: Fui na casa de meu amigo, fui na escola e
viajei de trem, sol quente, etc. Mais que óbvio que há vocábulos que os sinalizados desconhecem e
aparentemente, a comunicação é fácil entre eles, mas difícil com os demais.
Trabalhei em uma multinacional, fui "convidada" por uma área de remuneração executiva e fiquei contente, por entender que meu trabalho está sendo reconhecido. Imaginei que seriam
tarefas que poderiam desenvolver a minha parte intelectual, porém, para minha
decepção, me designaram uma tarefa tipicamente operacional: digitalizar
documentos. Pasmem! Eu, com duas pós graduações, digitalizando documentos! Tudo bem, eu aprendo com
prazer para minhas futuras compras de equipamentos eletrônicos mais
sofisticados, assim fico por dentro da tecnologia!
Então, o mercado continua sendo
relutante em designar tarefas de média e alta complexidade para as pessoas com
deficiência, tudo por preconceito e da falta de interesse em explorar as
potencialidades, capacidades e habilidades da pessoa com deficiência. Umas das hipóteses é o preconceito enraizado na cultura brasileira que
vem de longa data (O livro “1808” retrata isso) e outra é o assédio moral
silenciosa que dificulta a pessoa com deficiência provar que houve atos que
prejudiquem a estima e o desenvolvimento na carreira.
Tal fato, o mercado está repleto de
corporações que abrem vagas operacionais com baixos salários e muitas vezes,
até a metade do valor percebido dos pares não deficientes que exercem o mesmo
cargo. Observo que existe uma minoria de deficientes que possuem graduação, pós
graduação e doutorado, os quais são qualificados, podem muito bem ser
aproveitados no mercado de trabalho, recebendo bons salários e benefícios, contribuir às empresas promovendo o sucesso do negócio e crescimento. Deste
modo, minimiza o sufoco do preenchimento de cotas.
Para reter esse pessoal que, aparentemente,
trocam de empresa com certa frequência, é necessário um plano de
desenvolvimento profissional, uma vez que os profissionais com deficiência não querem
ser apenas um preenchimento de cotas e sim, crescer na carreira. É o que eu ouço com periodicidade. Além, ter
eliminado as atitudes preconceituosas em relação a esse público e das barreiras
arquitetônicas que facilitem a locomoção. Isso é a verdadeira inclusão.
Reflitam, é uma realidade.
Ela pode ser mudada e para isso ser concretizado, são necessárias mudanças
atitudinais de todos os envolvidos nas corporações e da sociedade em relação às pessoas com deficiência.
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