Certo
dia, uma colega da área administrativa que também é deficiente auditiva e
oralizada veio me contar que os nossos pares não oralizados, os quais comunicam
por libras, perguntou a ela o motivo de não aprender libras e poderia usar essa
língua caso o aparelho auditivo quebrasse. O que uma coisa tem a ver com a
outra?
As
duas línguas são distintas, sendo que a portuguesa tem aproximadamente 500 mil
palavras e a libras tem mais ou menos 10 mil, é uma diferença gritante. Ambas
possuem estruturas gramaticais diferentes.
Por
certo que a língua portuguesa é complexa quanto na gramática como no número de
verbetes. Ficou uma dúvida no ar: porque alguns deficientes auditivos
conseguiram vencer a barreira linguística adotando-a como nativa e outros, não?
Certa
vez, voltei ao Centro Suvag, na cidade de São Paulo, uma instituição voltada à
oralização dos deficientes auditivos, para lembrar como foi o meu aprendizado
na língua portuguesa. Em conversa com a diretora da instituição, que por sinal
fundou-a, na década de 60, por ter um filho DA que é oralizado, esta comentou
que os próprios DA’s criam barreiras na língua portuguesa e migram para o
aprendizado em Libras, que segundo os alunos falam que é “mais fácil”. Fiquei
pensativa.
Analisei
não só o contexto dos DA’s, mas sim da sociedade, a qual quer tudo pronto e
estamos na era dos botões, aparentemente, fabricando diversas preguiças de:
andar, abrir e fechar janelas dos carros, subir ou descer escadas, refletir,
pensar, entre outros. Que talvez influi no esforço de pensar e raciocinar a
gramática da língua portuguesa dos DA’s. Será? Ou tem fatores emocionais que
carregam os preconceitos que a família e a sociedade, aparentemente, impõem nos
DA’s? Interessante ter estudos e pesquisas a respeito, caso não houver.
Ora,
eu aprendi a língua portuguesa e por certo, tive imensas dificuldades que foram
solucionadas com a ajuda de uma maravilhosa fonoaudióloga que me auxiliou na
interpretação de textos e de perguntas, além do treinamento de ditados, pois na
época, eu tinha na escola.
A
partir do ensino médio, eu passei a acreditar nas minhas habilidades,
potencialidades e capacidades, não importando os preconceitos enfrentados ao
longo da jornada terrena. Muitas pessoas acham que somos estrangeiros ou nos olham
que somos ET’s. Quem não garante que viemos de lá?
Tive
“anjos terráqueos” que foram empáticos diante as minhas dificuldades e que me
encorajaram seguir em frente. Agradeço a eles por existirem ao longo da vida e
os abençoo.
Para
manter a compreensão auditiva, escrita e verbal da língua portuguesa requer
treinos diários com a leitura de livros (interpretar e escrever) e escutar
assuntos de interesse pessoal para ativar e acostumar o cérebro onde localiza a
área da audição.
Disciplina
é a palavra a definir para esses treinos diários e dependerá da escolha
individual de alcançar a independência, a autonomia e ser feliz.
Quanto
aos DA’s que optarem libras como língua nativa, é um direito de escolha e ser
feliz também, com uma ressalva: interessante respeitar diversos tipos de DA’s,
pois cada um tem um livre arbítrio de acordo com as possibilidades e crenças,
visando no crescimento pessoal, profissional, esportivo, afetivo, familiar e
espiritual.
Deficientes
auditivos ou não, amem-se, aceitem-se e acreditem em seus potenciais,
habilidades e capacidades, enfrentem a realidade, adquiram conhecimentos,
leiam, estudem bastante que o porvir está a sua frente num “piscar de olhos”. É
só uma sugestão.
Paz
no mundo!